A
cada ano que passa aprendo mais e mais com os artistas que trabalho e trabalhei como Diretor e muitas vezes ao lado, como elenco. Na minha trajetória e formação artística e aí me incluo
como elenco também, muitas coisas vi e vivi e olha que viajei o mundo pela arte
e através dela.
Optei
por viver da arte em um momento da vida que já havia feito de tudo um pouco e
tentado muitas coisas e muitas faculdades. Mas foi na arte que me encontrei de
fato um ser altamente produtivo, realizado e feliz. Não que nas muitas coisas
que fiz isso não tenha acontecido, SIM, em tudo que fiz na vida aconteceu sim,
mas eu tinha sempre a sensação de precisar buscar alguma coisa que, na minha
juventude, não conseguia perceber o que realmente era, nem que eu quisesse. Afinal
me faltava a vivência.
Tinha
a nítida impressão/sensação de tocar meu destino cada vez que subia no palco
para cantar ou atuar, mas como “subir no
palco” era uma coisa que até então não tinha como prioridade, minha percepção
não passava de uma sensação. Não percebia o quanto aquilo era verdadeiro e
sobretudo valioso.
Foi
então que depois de ver que a dedicação ambígua das muitas funções de vida que
eu tinha, acabava por diminuir a minha produtividade artística, que decidi
mesmo encarar o que o destino tentava me fazer entender. FUI VIVER DA ARTE COMO
DEVERIA, DEDICANDO MEU MAIS PRECIOSO TEMPO PARA ELA. E lá se vão 20 bons anos.
Nunca
fiz uma escolha tão acertada. Esta
escolha acabou por me colocar diante dos maiores mestres que o universo poderia
me brindar. Falo mestres não no sentido técnico do canto e da interpretação só,
mas mestres de vida.
Eles
me ensinaram a fazer arte, me ensinaram a, principalmente, reconhecer artistas
de verdade, a buscar ser um artista de verdade, me ensinaram por exemplo, que um
bom artista antes de mais nada é um ser humano bom, é uma boa pessoa e que essa
é uma condição para sermos verdadeiros na arte e na comunicação sintática com o
público.
Essa
“inverdade” vem a tona no palco, DESCARADAMENTE
e o conflito interno entre o que é “verdadeiro
de verdade” ou o que é “falso de
verdade”, acaba por diferenciar o
verdadeiro artista, daquele que busca ser o que não é.
Um
dos maiores bens que estes mestres me deixaram na vida foi PERCEPÇÃO, herança
esta que meu pai, involuntariamente e tão oportunamente me deixou. Por esse
ensinamento serei eternamente grato ao universo, porque ela, a percepção, me
faz ser mais sensível e complacente, me faz ser mais seletivo, me faz ser mais
verdadeiro.
Preciso
pensar muito bem no que vou dizer, para não ser mal interpretado por nenhum
artista que for ler o que estou escrevendo. Para aqueles que não se sentirem bem
com o que escrevo, cabe dizer que isto já é um sinal de que, na verdade, o que vc acha ser a sua verdade, gravita pela
superficialidade e a superficialidade não sustenta a arte de maneira alguma,
porque nunca dará base para a construção de um artista de verdade, ou de uma carreira sólida.
A crítica e a aceitação dela é inerente
a formação de um artista.
a formação de um artista.
O Q U E
S E V Ê
P O R A Í
Pois
bem: vi e VEJO AINDA ao longo da minha, constante e incansável busca pela experiência artística, todo o tipo de
artistas e de executores..............B A I L A R I N O S e
C O R E Ó G R A F O S capazes de fazer dezenas de piruetas com perfeição,
“devéloppés” ou “grand battements” incríveis..............vi nos muitos
concursos de canto que participei e teatros que cantei pelo mundo, C A N T O R E S com notas agudas ou graves maravilhosas e vozes
que fariam qualquer um fazer “vezinhos verdes” em planilhas repletas de requisitos
técnicos..........M Ú S I C O S virtuosíssimos,
com dezesseis dedos em cada mão dedilhando escalas intermináveis “tirando sangue das mãos” martelando os
dedos nas teclas de um piano sem a menor dinâmica.............A C R O B A T A S se entortarem, saltarem ou se
pendurarem, sem que aquilo provocasse nenhum tipo de sentimento, nem aquela clássica expressão, “nossa....!
como ele consegue?”, por exemplo, abismados da impossibilidade física da
performance...............A T O R E S empinarem
inflados peitos de pombo e recitar frases decoradas que derrubariam qualquer
acadêmico de primeiro semestre de artes cênicas...................vi e vejo D I R E T O R E S, principalmente os de obras prontas, que
na divagação dos seus eufemismos artísticos não conseguem dar uma linha de
condução nem ao que já era alinhavado quanto mais criar de verdade.........
NÃO LIGO para nada disso, para
nada disso mesmo, porque nada em mim desperta de verdade, N A D A A C R E S C E N T A D E
V E R D A D E.
Estes EXECUTORES que vi e que sobretudo ainda vejo por aí tem uma
técnica incrível, executam com perfeição TRUQUES ÓTIMOS, QUE MASCARAM as
incapacidades naturais de se comunicarem com o público de forma verdadeira e
sobretudo de receberem de volta o bem mais precioso que uma platéia pode nos
dar...........
O A G R A D E C I M E N T O
traduzido em aplauso e lágrimas.
Lágrimas estas que vertem sem que
tenham um real motivo, elas simplesmente aparecem, porque a verdade foi dada e
está sendo verdadeiramente transmitida de volta.
O
que realmente diferencia o artista de verdade dos executores é a capacidade
natural de colocar sentimento verdadeiro na execução............Também vi e
vejo cantores, bailarinos, coreógrafos, atores, músicos, acrobatas e diretores
BRILHANTES que me fazem tremer, que me fazem arrepiar, emocionar, me fazem
acreditar nos sentimentos que eles estão comunicando. Sentimentos muitas vezes de terceiros que tão
brilhantemente sintetizam e com suas experiências traduzem em linguagem que transformam em belíssimas
interpretações é o poder de expressar as suas emoções através da arte.
Artistas,
coreógrafos e diretores verdadeiros nos puxam para cima do palco, para dentro
de suas histórias, para dentro de suas coreografias, para dentro de suas
músicas, textos e performances.........e por isso são BRILHANTES.
Estes acertam
em cheio.
NO ALVO
Isto é algo que muitos
vivenciam e que, principalmente e despretenciosamente, atraem outras tantas pessoas para o mundo das
artes..........
As
vezes a única forma de se expressar é pela arte e vejo muita gente fazer isto de
forma ENVOLVENTE e APAIXONADA e é por isso que estes prevalecem, o resto cai na
seleção natural que mais dia menos dia acontece e se repete.............se repete...........e
repete.........repe..........re..........e acaba em nada de consistente.
Limpando as lágrimas e a garganta digo que quero
ver e sentir artístas e diretores que atuam a partir de um portal e que me
façam conectar com isto, que me façam sentir que estamos conversando através da
arte, falando comigo o tempo todo, através de suas interpretações, execuções, direções e de suas
criações. A questão é não ter vergonha da luta diária que é ser artista de
verdade, COM VERDADE, é ter a alegria de se apresentar pelos palcos onde
atuam e com quem atuam, de falarem das suas vitórias e de como conseguiram
chegar até onde estão, comunicando através do sentimento sintetizado na
interpretação. Me apaixono quando vejo isso. Daria tudo para trabalhar a vida
toda com artístas assim, ou ser dirigido por diretores assim, muito mais do que tecnicamente maravilhosos, que se
superem a cada dia, que sejam fenomenais na essência........
.....ESTES VERDADEIROS
ARTÍSTAS SABEM COMO CONTAR HISTÓRIAS, SEJAM COM SEUS CORPOS, COM SEUS OLHARES COM SUAS VOZES,
COM SUAS INTERPRETAÇÕES OU COM A SIMPLES MAS VERDADEIRA FORMA DE ATUAR.
ISSO É O QUE DIFERE UM ARTISTA DE VERDADE
DE MEROS EXECUTORES.
por RODRIGO CADORIN